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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Jogo de Cena

                                   É hoje as 20hs no E.C.E.


Entrevista: Eduardo Coutinho "Cineasta"
Jogo de cena
Da Redação
Divulgação
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Coutinho dá segurança emocional aos personagens para extrair autenticidade
Quais critérios para escolher as atrizes com que trabalhou?

Elas teriam de morar no Rio de Janeiro. Não dava para conversar por telefone. Era difícil explicar o que eu queria já era difícil. Não foi uma decisão científica. Decidi que teríamos conhecidas e desconhecidas. Quando tive a idéia para o filme, pensei em só fazer com desconhecida. Foi uma escolha difícil. Pensei que queria trabalhar só com pessoas que gosto. Aí contratei Ernesto Piccolo, que trabalha com atores e convocou atrizes com rostos menos conhecidos e elas apareceram voluntariamente. Elas estavam no limite do anonimato. Elas ensaiaram um pouco na casa do Piccolo e já pelo ensaio decidimos que teríamos também rostos famosos. É importante deixar claro que a vida das atrizes não é a vida das personagens.

Por que só mulheres em “Jogo de Cena”?

Eu filmo sobre gente diferente de mim. Esse mundo das mulheres é estranho para mim. São histórias de vida forte. Filmar criança é muito forte, mas é muito fácil. Sobra homens, mulheres. Escolhi o que me dá curiosidade. Posso explicar o que é ser mulher por 300 anos mas não saberei nunca o que é, de fato. Nunca vou saber o que é parir. E se fizesse um misto de entrevistados homens, mulheres, perderia a graça; algumas obsessões das mulheres ficariam eclipsadas com a presença dos homens. Quando elas conversaram, antes de mim, com minha assistente, que é mulher, o tom já havia sido diferente.

Você, de certa forma, também atua em “Jogo de Cena”. Foi difícil?

Isso também não foi científico. Quando a primeira atriz foi lá eu nem tinha decorado as primeiras perguntas. Aí pensei: ‘não dá’. É impossível. Fiquei com um ponto (earphone no ouvido) pelo qual minha assistente ficava dizendo as perguntas que eu tinha de fazer. Algumas vezes a própria atriz já incorporava a pergunta na resposta.

Você concorda que o cenário dos seus filmes se concentra cada vez no rosto dos personagens?

O “Jogo de Cena” tem 100 minutos, dois minutos são de uma escadaria, 30 segundos com imagens de jornal impresso, e o resto são corpos que falam, não só o rosto. Quando o corpo fala, não precisamos traduzir muita coisa. Usei duas câmeras, tinha o perfil e o rosto. Tirei todos do ambiente e fiquei só com elas. Essa falta de ‘perfumaria’ deu força.

Há um novo direcionamento de interesse de pesquisa em seu trabalho? “Jogo de Cena” parece um pouco mais curioso em investigar a postura das figuras diante da câmera, assim com a capacidade das atrizes e do público nesta percepção, do que no que elas tem a dizer realmente?

Qualquer mulher que for ao cinema ver o filme, entra no primeiro nível das histórias, que é o da mulher. O segundo nível é sobre interpretação. Sobre fábulas. As memórias funcionam no momento presente. Chega um momento em que as atrizes não imitam mais, elas vivenciam a sensação.

Qual a principal diretriz que você definiu com Jordana Berg (montadora do filme) no que diz respeito à narrativa do filme?

Desde “Santo Forte” (1999), quase dez anos, faço um trabalho habituado a lidar com a palavra. Algumas frases só poderiam sair da boca das entrevistadas e não das atrizes. Era algo muito pessoal. Tive esse tipo de discussão com Jordana porque é um julgamento que não é nem estético, é ético. Isso foi complicado. Ao mesmo tempo, quando é um “ping-pong” (entrevista ‘pergunta e resposta’) o equilíbrio fica difícil. Se eu tivesse uma dupla, seria um saco. Duas atrizes acabaram contando histórias pessoais. Algumas coisas que Fernanda (Torres) e Andréa (Beltrão) falam não são inventadas.

Todos nós representamos? Há alguma forma de sermos nós mesmos, conscientes sob o foco de uma câmera?

Isso é absolutamente impossível de definir cientificamente. Com uma câmera ligada você nunca sabe quem é a persona que está na frente desta câmera. Nestes momentos, a câmera aproxima você da pessoa que ela acha que é, e da pessoa como ela quer fazer o publico vê-la. É uma mistura disso tudo. Em termos psicanalítico, quem conhece você é você mesmo. O que significa contar a morte do filho para quem realmente perdeu um filho? Não há como controlar esse conhecimento.

Em todos os seus filmes, algum personagem acaba sempre cantando. Quando eles cantam, estariam revelando algo de si que seria difícil de extrair de outra forma?

Eu trabalho com pessoas e elas estão vendo a câmera e daí querem fazer um performance. Algumas contam sua vida, outras cantam. Algumas pessoas queriam ser cantoras e revelam que queriam cantar para a câmera. Eu deixo e aquilo diz muito, diz belamente. A Marília Pêra (que interpreta essa personagem em ‘Jogo de Cena’) se emocionou e isso foi extraordinário. A entrevistada cantou por 20 minutos só músicas alegres, mas quando ela entoou “se essa rua, se essa rua fosse minha”, foi a que ficou.

As barreiras entre documentário e ficção estão sumindo ou nunca existiram? Não termina nunca essa discussão?

Filmo palavras e rostos. Mostro rostos mas o efeito é ficcional. As personagens fabulam, inventam fábula e isso é ficção. São células ficcionais e são histórias fantásticas, são tão malucas como uma história do Spielberg. Mas, em termos sistemático, temos aqui um documentário. Fernandinha (Torres) entrou em crise no filme e o registro disso é puramente documental.

Qual sua próxima invenção?

Talvez em junho comece um projeto novo, mas pode ser adiado. Também vai mexer com teatro. Mesmo no ambiente da interpretação as pessoas se confundem, porque as aparências jamais enganam.

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